segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Meus dedos

Meus dedos às vezes me surpreendem.
Fico cheio deles quando me sinto intocável.
Quando o ver e o julgar são meus e não de alguém
Meto os dedos pelos olhos de outrem: atitude abominável.
Dedos que, quando curvados, somam-se ao punho cerrado
E cedem ao capricho traiçoeiro e incontrolável
De empreender força e poder, num gesto obcecado.

Dedos que quando confabulam por vezes me traem.
Querem para si, o dom do rei Midas - mito ou realidade? Não importa.
O fato é que Baco, com pesar, consentiu o desejo do pobre homem.
E o poder do toque de ouro, prosperidade tola, escolha torta
Logo trouxe ao monarca horror, desespero, aflição.
E aí meus dedos viraram-se para mim, abrindo assim a porta
Dizendo: é tudo efêmero, passageiro, vão. Queres morrer de inanição?

Dedos justapostos, gesto de reverência, fragilidade,
[contrição.
Dedos entrelaçados que retardam o agir,
[procrastinação.
Dedos que insistem em não se encolher
Apesar da dor dos anéis que se foram e dos que ainda se vão,
[não temer.

Indicadores e médios estalados: som, ritmo e cadência.
Mindinhos que não se dobram sem os anulares:
Força da dependência ou poder natural da influência?
Dedos presentes até na promessa escoteira
Indicador, médio e anular nos lembram, como uma flor de lis
O compromisso para com Deus e a Pátria brasileira,
Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião, assim o promessado diz.

Dedos que individualmente nos ensinam também na lida.
Polegar que funciona como termômetro da vida:
Para baixo: tô fraco, devagar, negativo, sem futuro, vaia em “u”;
Para cima: beleza, legal, positivo, pode crer, tudo azul!
Médio que quando altivo oprime toda mão,
Torna-se feio, grosso, mal educado, inconveniente, torpe palavrão.
É cascudo violento, bronca, malvadeza, tolice, esforço em vão.

Indicador em riste é dono da verdade, todo orgulhoso.
Tem mínimo, anular e médio como antítese incontestável;
Obriga o polegar a colocar alguém como mentiroso.
O anular, onde ordinariamente encontra-se algum anel,
Quer seja de formatura, compromisso, aliança, tucum,
Insiste em nos perguntar, às vezes, com gosto de fel:
Ei, psiu! Por ventura esquecestes que és tu?

O mindinho é completude, virtude, simplicidade!
O Presidente Luis Inácio Lula da Silva, mecânico, torneiro
Não pode fazer conchinha nem coçar o ouvido, verdade!
Não parou com a prensa que a vida lhe deu, em frente, companheiro!
Até Baden Powell, na África, aprendeu essa lição de amizade:
Sela o aperto de mão esquerda, do lado do coração do guerreiro
Que baixa o escudo em reconhecimento, confiança, sinceridade!

Dedos meus com os quais sempre converso
Ponta com ponta: polegares no queixo, indicadores sobre o nariz,
Reflexões tamanhas, pensamentos e enredos em prosa e verso
É como pondera, às vezes ligeiro, outras sem pressa, o eterno aprendiz.
E assim seguem os dez dedos meus.
Partes contidas no todo desse humano corpo:
Morada do Espírito, Templo de Deus.

Abração a tod@s!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O que quer dizer cativar?


Essa é uma pergunta que vira e mexe me faço com frequência.
Mas, segundo a raposa, cativar significa criar laços. É ter necessidade um do outro.
E ela completa: "Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora como música".
E a raposa pede: Por favor, cativa-me!
E qual é a nossa resposta... igual a do principezinho: "Bem quisera, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer".
Mas a raposa insiste: "A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
E após um longo diálogo entre o principezinho e a raposa, temos algumas pistas a serem seguidas:

=> Paciência mais que a linguagem. "A linguagem é uma fonte de mal entendidos".

=> O rito "é o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração..."

=> Querer e deixar-se cativar: "Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa".

=> "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos". Esse é um dos grandes segredos da vida: gastar tempo nos nossos relacionamentos. Lição importante que não devemos esquecer: " Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

Não esperemos 2009 chegar!

Baixemos nós as pontes levadiças dos nossos castelos e fortalezas ao som do mais tímido e simples Toc-tOc-toC.

Cativemos e deixemo-nos cativar!

Abração a tod@s!


(Adaptado de "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry)

sábado, 8 de novembro de 2008

Quando a tristeza me alcança

Alguns amigos meus estão passando por dificuldades. Nessas horas bate uma tristeza, misturada com angústia e impotência.
Comecei a cantar... e assobiar...

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
(Milton Nascimento)

Mesmo com um aperto no coração, abração pra tod@s!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Risada!


É asim que eu imagino Raboni:
Alegre e sorridente!

Essa deve ter sido a gargalhada
que Ele deu antes dizer pra Zaqueu:
"Hoje entrou salvação nesta casa".
[Parece até que estou ouvindo!]
[Vocês conseguem ouvir?]
[ heheheheheh!!!!!]
Abração!

sábado, 18 de outubro de 2008

Como água fria do pote


Faz três meses que me lancei num novo desafio profissional.
Diferente de tudo o que eu já fiz até agora, meu trabalho tem exigido muito de mim: energia, concentração, renúncia... e por aí vai.
Num desses dias a pressão foi grande. Não fosse a convicção da potencialidade do aprendizado e do crescimento profissional teria jogado a toalha.
E o que me ajudou a perceber que deveria encarar de frente as situações futuras de pressão? Deixa eu dizer...
Foi justamente no dia que sai da sala da minha chefe, depois de ouvir uma chamada por ter cometido um erro na execução de uma ordem. Atordoado com a situação, disse: "Ah! Como seria bom um banho com a água fria do pote da casa da minha avó"! Explico.
De vez em quando, quando estava muito quente, dava um jeito de passar lá e tomar um banho refrescante e revitalizador. E toda vez que saía do banho, minha avó dizia: "Água boa, né"?
Naquela hora, ao sair da sala, ouvi uma canção que tocava no meu computador:

"Não vê que estou contigo,
homem de pouca fé, no mesmo barco a dormir.
Deixa a onda açoitar.
Entrega tudo a mim.
Aquieta o coração
e verás que sou Deus".

Senti a mesma sensação de ter tomado um banho com a água fria do pote da casa da minha avó!
No fundo, no fundo, já demarquei o campo até onde devo ir. Já sei até onde o elástico pode ser esticado sem que perca a eslasticidade.
Abração a tod@s!

sábado, 4 de outubro de 2008

PP Joel

Há algumas semanas atrás, fui convidado a participar de uma pesquisa para avaliar a gestão da Prefeitura de Fortaleza.
Logo na recepção do local onde foi realizada a pesquisa, encontrei um cara muito comunicativo e que me chamou atenção pela maneira com cumprimentava as pessoas: "Boa noite. Meu nome é PP Joel. PP de Poeta e Pintor. Sinta-se honrado de poder me conhecer".
E começamos a conversar sobre o que fazíamos, e como tínhamos chegado alí, e quem havia nos convidado.
Foi aí que ele começou a narrar a história da sua vida. Confesso que fiquei parado. Eu era "todo ouvidos". Fazia um grande esforço para conter as lágrimas.
Disse logo: "Mas isso que você está nos contando é história e experiência para ser compartilhada num livro"! Aí ele respondeu: "Pois é... o livro já escrevi. Chama-se "Lagamar: Cenário de Vidas". Raimundo Fagner comentou meu livro; José Luiz Datena fez um quadro do promagra No Coração do Brasil comigo. Já fiz muitas palestras, consedi muitas entrevistas, e fui tema para diversas monografias de faculdades. E pra resumir, nem eu mais tenho o livro".
Aí o Anderson disse: "Cara... o Adson tem esse livro. Poderíamos transformar o livro num documentário. Falta só o projeto - completou ele olhando pra mim".
Pois é...
Aceitei o desafio de fazer um projeto para reeditarmos o livro e fazermos um documentário.
Pedi autorização para reproduzir uma cópia e ler a história.
Assim que terminei a leitura, passei o livro para outra pessoa. Realmente é um livro para ser dividido.
Mas o que saltou aos meu olhos naquela leitura foi uma personagem que investiu na vida do PP Joel, quando nem ele mesmo acreditava em si, o David. Resultado: hoje o Da Silva, como PP Joel é chamado no livro, além de ser um profissional reconhecido na cidade, teve a oportunidade de beber Água Viva e mudar o rumo de sua vida.
E a pergunta continua a ecoar: quantos de nós estaríamos dispostos a fazer o mesmo?
Agora lembrei-me de um episódio narrado no Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas:
"Os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus, dizendo: - Este homem se mistura com gente de má fama e toma refeições com eles.
Então Jesus contou esta parábola:

- Se algum de vocês tem cem ovelhas e perde uma, por acaso não vai procurá-la? Assim, deixa no campo as outras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida até achá-la.

Quando a encontra, fica muito contente e volta com ela nos ombros.

Chegando à sua casa, chama os amigos e vizinhos e diz: "Alegrem-se comigo porque achei a minha ovelha perdida."

- Pois eu lhes digo que assim também vai haver mais alegria no céu por um pecador que se arrepende dos seus pecados do que por noventa e nove pessoas boas que não precisam se arrepender" (Lc 15.3-7, NLH).

Que D'us nos ajude!
Abração!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

ORAÇÃO

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz !
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado
compreender que ser compreendido
amar que ser amado

Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se vive para a VIDA ETERNA !

(SÃO FRANCISCO DE ASSIS)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Entre feras...

Estas últimas semanas tenho convivido com o "sanguíneo" que existe em mim!
É... sanguíneo, sim!
Não que eu queira matar literalmente quem está me aborrecendo, mas de me fazer fera e assim revidar, com uma dose dobrada de palavras capazes de atingir cada ponto fraco, cada defeito, cada falha, os aborrecimentos que algumas pessoas próximas de mim têm me causado.
Aí lembro sempre de um cara que conheci em Sobral e que vivia recitando o Augusto dos Anjos:

"(...)
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera".

Também, num abrir e piscar de olhos, lembro-me do Allison cantando:

"Mais que pregar, quero viver
Mais que sentir, eu quero ser
De alguma forma conhecido lá no céu
Ainda que aqui não seja assim
Muitos se ergam contra mim
Meu desafio é ser íntimo de Deus."

E é justamente nesses instantes que ocorre um poderoso embate entre os "Eus" em mim, que, se somados, são maiores do que eu mesmo! Travam fogo no espaço da Galáxia da Mente e do Coração. Provocam uma tempestade sem tamanho e nem hora para acabar no imenso oceano que sou, em mares nunca dantes navegados!
E quando menos espero, acontece um verdadeiro milagre: ecoa dentro mim Aquela Voz dizendo: "Cala-te, vento. Aquieta-te, mar".
Aí digo para mim mesmo ouvir: "que besteira eu ia fazendo"!
Para quem não sabe, o Augusto dos Anjos materializou seu pessimismo aspirando à morte e à anulação do seu eu numa fase da Literatura Brasileira conhecida como Simbolismo.
Os conflitos irão continuar existindo. Não tenho como fugir deles.
Aprendi ao longo da estrada que existem "maneiras" e "maneiras" de se dizerem as coisas!
Os Provérbios de Salomão me ajudaram nesse exercício:
12:18 – “Há palavras que ferem como espada, mas a língua dos sábios traz a cura”.
12:19 – “Os lábios que dizem a verdade permanecem para sempre, mas a língua mentirosa dura apenas um instante”.
13:13 – “Quem guarda a sua boca guarda a sua vida, mas quem fala demais acaba se arruinando”.
15:4 – “O falar amável é árvore da vida, mas o falar enganoso esmaga o espírito”.
15:26 – “O Senhor detesta os pensamentos maus, mas se agrada de palavras ditas sem maldade”.
16:32 – Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade”.
17:14 – “Começar uma discussão é como abrir brecha num dique; por isso resolva a questão antes que surja a contenda”.
17:19 – “Quem ama a discussão ama o pecado; quem constrói portas altas (se orgulha) está procurando a sua ruína”.
18:19 – “Um irmão ofendido é mais inacessível do que uma cidade fortificada, e as discussões são como as portas trancadas de uma cidadela”.
18:21 – “A língua tem poder sobre a vida e a morte; os que gostam de usá-la comerão do seu fruto”.
20:23 – “Quem é cuidadoso no que fala evita muito sofrimento”.

E assim, vou afugentado a fera dentro de mim, consciente de que também tenho meus pontos fracos, defeitos e falhas! E que causo aborrecimentos também.
Seria este um primeiro passo para domesticar a fera?
Que Deus nos ajude!
Abração a tod@s!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"Cada um é Doutor na sua profissão".

Uma das primeiras lições de vida de que me lembro, aprendi na tradição oral da comunidade onde meus pais moravam, onde nasci e cresci: o Alto da Paz. A frase que dá nome a este texto estava anotada numa nota de aula da disciplina Sociologia do Trabalho do curso de Administração de Empresas, que tratava das relações de produção no capitalismo. O tópico trazia as afirmativas:
O trabalho é protoforma da práxis social e é caracteristica fundante do ser. Trocando em miúdos, é como o Gonzaguinha colocou em sua poesia:

"Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E a vida é trabalho
E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz".

Pois bem...
Todos os adultos da minha vizinhança contavam a história do "Seu Chico Pititoso", um marceneiro de mão cheia.
Certo dia, ele foi contratado para fazer um trabalho nas redondezas de montar e assentar umas portas e janelas. E todos dizem que o Seu Chico trabalhou duro durante todo aquele dia. Ao final do dia, o dono da casa chegou para verificar se o serviço fora concluído e se estava do seu agrado.
- Muito bom, Seu Chico! Quanto foi seu trabalho?
- Foi tanto, Doutor. Respondeu Seu Chico dizendo o preço, o qual esqueci.
- Que é isso, Seu Chico! Eu sou Doutor e não ganho isso num dia! Replicou o dono da casa achando o preço muito caro e querendo barganhar.
Foi aí que Seu Chico juntou suas ferramentas na sua mala e disse:
- Doutor, cada um é doutor na sua profissão!
Deu as costas e foi para sua casa.
Atordoado com aquela atitude o Doutor foi até a casa do seu Chico pedir-lhe que aceitasse o pagamento.
Que coisa, não!
O Seu Chico não está mais ente nós, mas deixou esse legado na sua comunidade.
Lembro sempre dessa história quando passo pela experiência de não ter o meu trabalho valorizado.
E a você, leitor, leitora, fica o desafio de reconhecer e valorizar o trabalho de quem está a sua volta.
Abração a Tod@s!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Dia do Professor

15 de agosto: dia do Professor. A seguir, um dos meus poemas preferidos, quando das minhas aulas de introdução aos estudos históricos. Lembro-me de que eu o trabalhava com minhas turmas do ensino fundamental, médio e superior. O desafio era juntar imaginação, senso crítico e reflexão nas diversas linguagens das crianças, jovens e adultos. Geralmente, perguntava:"Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?" Aí, como muitos ficam voando, até porque nunca tinham visto, sequer por foto, as Muralhas da China, eu refazia a pergunta: Para onde foram os pedreiros na noite em que os "shoppings centers" e os edifícios da Beira-Mar ficaram prontos?" O resultado era gratificante, a pesar do salário! heheheheh!!!

PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ (Bertold Brecht)

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?
César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele?
Cada pagina uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.

Aqui fica meu abraço para os meu colegas de profissão. Aqueles que aceitaram o desafio de serem eternos aprendizes!

domingo, 10 de agosto de 2008

Por isso vem

Já falei pra vocês da Fraternidade Teológica Lationo-Americana há alguns meses atrás. Na consulta de maio de 2008, teve um momento que foi muito significativo pra mim. Não sei se vocês já dançaram ciranda. Garanto que é terapêutico!!

MOMENTO NOVO (Ernesto B. Cardoso)

Deus chama a gente pr’ um momento novo

de caminhar junto com seu povo.

É hora de transformar o que não dá mais;

sozinho, isolado ninguém é capaz.

Por isso vem!

Entra na roda com a gente,

também, você é muito importante.

Vem!

Não é possível crer que tudo é fácil.

Há muita força que produz a morte,

gerando dor, tristeza e desolação.

É necessário unir o cordão.

Por isso vem!

Entra na roda com a gente,

também, você é muito importante.

Vem!

A força que hoje faz brotar a vida

atua em nós pela sua graça.

É Deus quem nos convida p’ra trabalhar,

o amor repartir e as forças juntar.

Por isso vem!

Entra na roda com a gente,

também, você é muito importante.

Vem!

Abração a Tod@s!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Dois Brilhantes





"A mulher tem na face dois brilhantes

Condutores fiéis do seu destino

Quem não ama o sorriso feminino

Desconhece a poesia de Cervantes

A bravura dos grandes navegantes

Enfrentando a procela em seu furor

Se não fosse a mulher mimosa flor

A história seria mentirosa

Mulher nova, bonita e carinhosa

Faz o homem gemer sem sentir dor".


("Mulher Nova, Bonita e Carinhosa" - Zé Ramalho)

Fotos: http://pracadarepublica.weblog.com.pt/2006/06/olhares.html



Poesias e aulas de história à parte... me pergunto:

Será que eu estou sentindo o feitiço atrativo do amor?

Esta semana olhei para dentro de dois brilhantes e...

Vi que Cervantes tinha razão!

Agora é ter a bravura dos grandes navegantes!

Desejem-me sorte.














segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sobre ferrolhos

Dentre os muitos ensinamentos contidos nos Provérbios de Salomão, existe um que me chama a atenção por falar nos ferrolhos.

"O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como ferrolhos dum palácio" (Pv 18.19).

Quando assisti o filme "O Senhor dos Anéis: As duas Torres", lembrei-me imediatamente do provérbio acima. As cidades, que também eram fortalezas, só eram tomadas à força. A energia e o grande número de guerreiros mobilizados nas incursões era algo absurdamente descomunal. Agora, imagine eu ou você tendo que empregar tamanha força para reconquistar um irmão ou um amigo ofendido...!?:;,.
Diz uma linda lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto e em um determinado ponto da viagem discutiram. O outro, ofendido, sem nada à dizer, escreveu na areia: HOJE, MEU MELHOR AMIGO ME BATEU NO ROSTO. Seguiram e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se sendo salvo pelo amigo. Ao recuperar-se pegou um estilete e escreveu numa pedra: HOJE, MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME A VIDA. Intrigado, o amigo perguntou: Por que depois que te bati, você escreveu na areia e agora escreveu na pedra? Sorrindo, o outro amigo respondeu: Quando um grande amigo nos ofende, deveremos escrever na areia onde o vento do esquecimento e do perdão se encarregam de apagar; porém quando nos faz algo grandioso, deveremos gravar na pedra da memória do coração, onde vento nenhum do mundo poderá apagar !!!!
É...
Essa lenda anotei na minha agenda alguns dias depois que um amigo me disse que eu era um peso na vida dele. Mas nem sempre os irmãos ofendidos estão dispostos a abrirem os ferrolhos de seus palácios. E o que fazer nesses trechos da estrada? Deixar-se levar pela lógica de que "a vida sempre foi um perde-ganha, quem não bate apanha; e isso é natural"? Ou fazer como aquele pai , que esperava o filho que se foi levando parte dos bens da família, e ao avistá-lo ainda quando estava longe, se moveu de íntima compaixão, correu ao seu encontro e o abraçou e o beijou?
Tenho procurado abrir os muitos ferrolhos do meu palácio. Confesso que não é uma coisa fácil de se fazer. É algo doloroso de imediato. Mas que ao abrir da porta torna-se libertador!
Abração a tod@s!

sábado, 19 de julho de 2008

Navegar é preciso...


"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.

Virando de ponta-cabeça um dos trocadilhos mais representativos da era das navegações, temos uma grande lição!

Naver é preciso, aqui, não no sentido de exatidão, mas porque faz parte do âmago humano o desejo de desbravar o desconhecido!
É como disse Jonas Abib, Monsenhor.:

"Não dá mais pra voltar, o barco está em alto mar.
Não dá mais pra negar o mar é Deus e o barco sou eu
E o vento forte que me leva pra frente é o amor de Deus.
Não dá nem mais pra ver o porto que era seguro.
Eu sou impulsionado a desbravar o novo mundo".

Parafraseando os poetas, "muitas vezes nossos corações fingem fazer mil viagens. No entato, estão ancorados num porto qualquer, sendo arremeçados contra o cais".

"Navegar é preciso!"
Abração!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Saia você também da cabana

Não sei se você já teve a agradável dificuldade de avançar na leitura de um livro, após se deparar com um trecho que lhe chamou a atenção e fez com que você parasse, respirasse bem fundo e soltasse sua imaginação. Isso acontece comigo logo nos prefácios e até nas dedicatórias.
Estou lendo um livro do Philip Yancey, e descobri a história facinate de um homem chamado John Muir, relatada no prefácio de Eugene Peterson; e que agora eu compartilho com você.
"Na última metade do século dezenove, John Muir era o mais intrépido e maravilhoso explorador do extremo ocidental da América do Norte. Por décadas ele andou pelas impressionantes criações de Deus, para cima e para baixo, desde as Sierras da Califórnia até as geleiras do Alaska, observando, relatando, louvando e experimentando - entrando em tudo o que encontrava com o prazer de uma criança e reverência da maturidade.
Em 1874 Muir visitou um amigo que vivia numa cabana aninhada no vale de afluente do rio Yuba, nas montanhas Sierra - um lugar ermo, bom para se aventurar e depois voltar para uma reconfortante xícara de chá.
Num dia frio de dezembro surgiu uma tempestade vinda do Pacífico - uma brava tempestade que fustigava os zimbros e os pinheiros, as madornas e os ciprestes como se fossem folhas de relva. Era para tempos como esse que a cabana fora construída: proteção aconchegante dos elementos severos da natureza. Facilmente podemos imaginar Muir e seu anfitrião seguros na cabana bem calafetada; laleira acesa para espantar o assalto cruel dos elementos, ambos enrolados em peles de ovelha; Muir absorto, descrevendo, em elegante prosa, a fúria da natureza. Mas, nossas imaginações não treinadas a lidar com Muir, nos traem, pois Muir, em vez de se abrigar no aconchego da cabana, fechando bem a porta e jogando mais uma tora no fogo, saía da cabana no meio da tempestade, subia um alto penhasco, escolhia um pinheiro gigante como poleiro ideal para experimentar o caleidoscópio de cor e som, cheiro e movimento, abria caminho ao topo e cavalgava a tempestade, fustigado pelo vento - segurando firme para preservar a vida, curtindo a natureza: usufruindo toda sua rica sensualidade, sua energia primal".
E você...?
É um mero espectador da vida, que prefere os confortos de criatuaras ou, em vez disso, os confrontos com o Criador?
Abração!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Professor Pedro

Vamos agora até a "Princesa do Norte", Sobral, no nosso Ceará.
Havia passado no vestibular para o Curso de História da Universidade Vale do Acaraú-UVA.
Como eu fui parar lá?
Foi assim...
Conclui o segundo grau em 1991 e não ingressei nas universidades da capital. Passei o ano de 1992 jogando futebol. Não peguei em nenhum livro! Que disperdício!
Meus tios eram representates de uma marca de cosméticos e comecei a trabalhar com eles na distribuição dos produtos nos gabinetes de beleza. Como os negócios iam bem, eles pensaram em montar um escritório em Sobral. Trabalharíamos durante o dia e estudaríamos à noite. Resumindo... fizemos o vestibular, mas só eu passei nas provas.
Em 1993, passei a morar em Sobral. Fiquei hospedado no Pensionato do Sr. Petrus Johannes Van Ool, ou simplesmente Professor Pedro, um holandês que sobreviveu a Seguanda Guerra Mundial e que escolheu o Brasil como seu chão.
Um homem de uma mente brilhante. Mestre de figuras conhecidas nacionalmente, como a de Ciro Gomes, de quem conhecia bem o gênio! Poliglota: holandês, latim, espanhol, alemão, francês, inglês e português. Lembro-me de ouvi-lo recitar trechos de "Hamlet", de William Shakespeare. "Ben", de Michael Jackson, uma de suas canções preferidas.
Idealista e apaixonado pela educação. Havia montado o espetáculo "Luzia Homem", de Domingos Olímpio, no Teatro Municipal de Sobral. Um sonho: montar a "Ópera O Guarani", de Carlos Gomes, pois também era regente de coral.
Não era meu professor. Era um Mestre. Converssávamos muito. Não tinha assunto que ele não soubesse desenvolver. Aliás ele me dava uma bronca quando perguntava se ele tinha algum livro que falasse de um determinado assunto. Aí ele dizia: "Wendel, livros não falam. Livros tratam de algum assunto". Aí caíamos na risada!
Marcou minha vida e de centenas de outros estudantes que por lá passaram!
Sua maior riqueza era o conhecimento.
Realmente, um Mestre!
Depois de 15 anos retornei ao pensionato e fui ao seu encontro com uma grande expectativa. Fui participar de um Congresso de Jovens dos dias 4 a 6 de julho de 2008, em Sobral, e aproveitei pra fazer-lhe uma visita.
Cheguei no portão e perguntei: "Essa é a casa do Professor Pedro, né? Ele está?".
- Não! - repondeu-me um senhor, que cuidava de uma criancinha, com muito espanto.
- Já faz 40 dias que o Professor Pedro faleceu. Completou ele.
Meus amigos André Rocha e André Ximenes, que estavam comigo, logo perceberam minha tristeza e frustração. Havia chegado tarde demais!
Fomos então convidados pela esposa do Professor, Dona Zuneide, a quem eu chamava carinhozamente de Dona Zu, a entrar e conversar um pouco.
Ela nos mostrou as matérias nos jornais da cidade. Ainda me presenteou com um exemplar de um jornal e um CD de homenagens ao seu esposo.
Pude entrar novamente em seu escritório, onde estava a sua biblioteca particular, cenário da tradução de muitos livros para grandes editoras nacionais, mesmo que não levasse os créditos. A máquina de datilografar num canto coberta jazia em silêncio. Sobre sua mesa, o Novo Testamento, outros livros, além da boneca da edição ampliada das lembranças da guerra.
Abracei Dona Zu e choramos...
Já era hora de ir embora e agradeci Dona Zu por tudo o que ela e o Professor Pedro contribuíram para minha formação. Isso é algo que não tem preço!
Que saudade!!!

http://www.youtube.com/watch?v=aSqo17o2a1w

domingo, 29 de junho de 2008

Lembranças do Parque

O "Parque das Crianças".
Foi assim que ficou imortalizado essa área verde no centro de Fortaleza e que durante muito tempo abrigou a Escola Alba Frota.
No Parque foi onde aprendi a ler e escrever. Lembro-me da minha festa de Dr. do ABC: um lenço branco em cada mão e cantando várias canções. No final de tudo, muitas fotos e choros das "Tias", de muitos meninos e meninas.
Hoje, compreendo perfeitamente o sentimento delas!
Tenho que adimitir que dei muito trabalho as minhas professoras. Minha agenda não era assim tão cheia de estrelinhas...hehehehheehh!!!! Era uma frase presente em boa parte dos meses: "O aluno não poderá vir amanhã sem a companhia dos pais ou responsável". Esse era o código dos adultos para entregar as bagunças e as indisplinas nas aulas.
Ah! Também as professoras davam o conceito ao comportamento do dia: Excelente, Ótimo, Bom, Regular e Insuficiente. Confesso que nessa escala eram mais comuns os regulares e insuficientes.
Minha mãe sempre me lembra de uma vez que promovi uma verdadeira farra na sala de aula. O fato é que fiquei pulando sobre as mesas dos meus colegas e ainda convidei outros a fazer o mesmo. Resultado? Sola, ora! hehehehheeh!!!
Outra vez foi a descoberta de um atalho chamado janela. Eu não usava mais a porta da minha sala. Pulava tanto de dentro para fora como de fora para dentro! A sentença fora escrita na agenda e o castigo executado: sola, ora! O pior não foi ter sido privado de brincar na rua, mas a surpreza que me aguardava no dia seguinte. Antes de ir para o Parque, minha mãe me deu umas chineladas. Sem entender aquilo e sem saber o motivo da peia, peguntei aos prantos:
- Mas o que foi que eu fiz?
- Nada - respondeu minha mãe com as últimas três chineladas. Mas ainda vai fazer! Pensa que eu não sei?
Mas nem o fato de tanta sola
tirava de mim a paixão
por aquela escola.
Quantas vezes não fiquei sem recreio por conta das tarefas não respondidas? Tantas e tantas...
Hoje, professor, quando "volta e meia" estou procurando alguma coisa nas minhas agendas, me deparo com um texto do Paulo Freire:
A ESCOLA
Escola é...
o lugar onde se faz amigos,
não se trata só de prédios, salas, quadros,
programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha,
que estuda, que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente, cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de "ilha cercada de gente por todos os lados".
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém,
nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver,
é se "amarrar nela".
Ora, é lógico...
numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.

domingo, 22 de junho de 2008

Equilíbrio Ecológico

"Galáxia da Mente e Coração"
Toda vida que eu escutava essa música mergulhava numa viagem que me fazia respirar fundo! Nas páginas da minha agenda estava escrito: "Isso sim é que é equilíbrio ecológico! Onde o leopardo passeia com a corsa..."

DEREPENTE EU ME VEJO NUMA NOVA CIDADE
ONDE NÃO HÁ GUARDA E NEM HÁ LADRÃO
ONDE TODO EMPREGADO É AMIGO DO PATRÃO
ONDE QUALQUER SER VIVENTE, VIVE EM PAZ COM SEU IRMÃO

ONDE O LEOPARDO PASSEIA COM A CORSA
ONDE NINGUEM FORÇA A NATUREZA PRA VIVER
ONDE A ANDORINHA VOA COM O GAVIÃO
ONDE AINDA O CORAÇÃO É A FONTE DO SABER

DEREPENTE EU ME VEJO NUMA NOVA CIDADE
ONDE NÃO HÁ CHORO E NEM RANGER DE DENTE
ONDE OS PEIXES DO RIACHO NÃO RESPIRAM DETERGENTE
ONDE NÃO HÁ FALTA D'AGUA E TAMBÉM NÃO HÁ ENCHENTE

ONDE O LEOPARDO PASSEIA COM A CORSA
ONDE NINGUEM FORÇA A NATUREZA PRA VIVER
ONDE A ANDORINHA VOA COM O GAVIÃO
ONDE AINDA O CORAÇÃO É A FONTE DO SABER

"SENHOR QUANDO O DIA AMANHECER E ESSE SONHO EU VIVER
A ESPERANÇA DE MORAR NO CÉU
E DE VER TODA ESSA VELHA TERRA, TRANSFORMADA NUMA TERRA NOVA
ONDE MANA LEITE E MEL."

("Sonho", Novo Alvorecer)

domingo, 15 de junho de 2008

Dom Quixote

IMPRESSÃO DIGITAL

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz
.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!"
.
António Gedeão, in Movimento Perpétuo

domingo, 8 de junho de 2008

Dialetos

Há uns cinco anos atrás presenciei um choque de dialetos.
O Ceará, conhecido pelas belezas naturais, pelos problemas sociais sérios e que merecem cuidados, também é conhecido pela forma como as pessoas falam, ou seja, pelo seu dialeto, o "Cearês".
Não que isso seja exclusividade cearense, mas alguns ambientes desenvolvem com mais facilidade expressões e jargões que só são compreendidos por quem os frequenta. Um exemplo são as igrejas que falam o "evangeliquês".
E foi justamente no início da madrugada de um sábado que ouvi uma das frases mais orginais que lembro, onde o "cearês" e "evangeliquês" se confrontavam.
Meu vizinho estava bêbado(até hoje é difícil encontrá-lo sóbrio, pois é dependente do álcool) e discutia em voz alta com sua irmã. Quanto mais eles falavam mais os outros vizinhos ascendiam as luzes para ver o que estava acontecendo. Mas o que chamou minha atenção foi o final daquela discussão:
"Num bote boneco, não cumade! Fique aí na sua!" - disse ele.
"Troço desse só serve pra perturbar nosso juízo!" - disse ela.
"Quem mandou mexer comigo? Agora eu vou lhe aperriar até dizer chega!" - retrucou ele.
"Tá é queimado, tá é queimado, tá é queimado em nome de Jesus!" - bradou ela.
"Ora... Se Jesus já quer é tirar o "nêgo" do fogo! Como é que pode tá queimado?" Perguntou ele, o que pôs fim a discussão.
Minha reação na hora em que ouvi isso foi um misto de riso e choro.
Riso pela forma genial do trocadilho. Não conseguiria ter dado uma resposta melhor e acabar com a discussão. Choro por ouvir o clamor de alguém bem perto de mim e permanecer alheio.
Para escrever essa história pedi a autorização do meu ex-vizinho, que quase me derrubou da cadeira quando foi se levantar do meio fio da Praça Argentina, onde nós converssávamos.
É... Esse cara precisa de apoio. Só assim ele terá a oportunidade de escolher trocar a "água que o passarinho não bebe" por "Água Viva"!
Sei que o desafio é grande: compartilhar com alguém algo que nos custe muito, principalmente o tempo!

Um grande abraço!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O tempo nosso de cada dia

Escrevi um texto com o mesmo título faz algum tempo. Lembro-me que foi logo após o aniversário do Werbston. Naquela noite, resolvi ler uma música que ouvira dentro do ônibus e que mexeu muito comigo. Por vezes isso acontece!
Abro parêntese...
De vez em quando me pego fazendo as contas do tempo. A última vez que vi as pesquisas do IBGE sobre a expectativa de vida dos brasileiros e brasileiras foi em 2006: a média nacional era de 71,9 anos; enquanto a média da região Nordeste era de 69 anos. No Sul: 74,2 anos; no Sudeste: 73,5 anos; no Centro-Oeste: 73,2 anos; e no Norte: 71 anos.
E para essa problemática tentava a "solucionática" de Moisés: "Ensina-me ó Deus a contar os meus dias para que eu alcance um coração sábio."
E fazia as contas...
Nasci em 1974. Pela média nacional, viveria (1974 + 71,9) até 2046, aproximadamente. Pela média do Nordeste, viveria (1974 + 69) até 2043. Assim:
Até 2046: 34 anos x 365 dias = 12.410 dias vividos.
2046 - 2008 = 38 anos a viver ou 38 anos x 365 dias = 13.870 dias a viver.
Se contados os anos bissextos temos de 1974 a 2004 mais 8 dias. Assim, os dias vividos passariam para 12.418 dias. De 2008 a 2046 temos mais 12 dias. Os dias a viver passariam para 13.882.
Paranóia constantemente confrontada pela Metanóia! Por isso não vou fazer as contas se fosse viver até 2043. Fecho parêntese.
Estávamos, os homens, num círculo na sala de estar, enquando as "meninas" também se organizaram num dos quartos.
O papo cabeça estava a mil por hora! Todos falavam. E lá pelas tantas, resolvi fazer uma pergunta:
"Posso ler uma coisa pra vocês?" - Perguntei meio receoso, achando que ia falar besteira.
"Diz lá, cara!"- Respondeu o Werbston, o anfitrião e aniversariante, o que me deixou muito à vontade.
Foi aí que eu abri minha agenda e comecei a ler:

"Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar".
("Epitáfio", Sérgio Britto)

Não sei os outros, mais teve um deles que bebeu junto comigo da essência dessa letra. Pude ver nos olhos dele! São em ocasiões como esta que podemos dizer: "ganhei o dia! Ufa! Não tô ficando doido!".
Toda vez que me pego na tentativa (e porque não dizer tentação!) de contar o tempo com o rigor "cartesiano" fecho os meus olhos e me vem à mente aquele dia...
Posso ver todos ali sentados em círculo. Posso ouvir minha voz e as batidas apressadas do meu coração.
Quero encerrar este texto com uma expressão que vi no filme "Sociedade dos Poetas Mortos" e no site do Rubem Alves: "Carpe Diem", que quer dizer "aproveite o dia"; "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

Abração!
"PaZ para os Irmãos!"




domingo, 25 de maio de 2008

EstAção

O Centro de Fortaleza reserva para além do horário comercial uma porção de "navegadores solitários".
Quando fui convidado por uns amigos para participar do Projeto EstAção, não imaginava como a ação desenvolvida por eles poderia reverberar na estrada.
Confesso que, na primeira vez que fui até a Praça da Estação, estava ancioso por encontrar as pessoas com quem meus amigos interagiam nas noites de sábado à noite.
A idéia é simples: Sanduíches e suco no primeiro momento; e ouvido, atenção, abraços, sorrisos, compaixão... no segundo momento.
Fiquei e ainda fico impressionado com o poder desse gesto!
Quando chegamos na praça, os "navegadores e navegadoras solitári@s" vão aparecendo um por um. São pessoas que não têm nada... nada mais que seus trapos e o ar que respiram! Alguns saem "do sonho feliz e cidade" em busca de trabalho, mas acabam nas ruas. Outros, ao contrário, deixaram tudo e todos para viverem à deriva... São músicos, donas de casa, ministros do evangelho, filhos e filhas rebeldes, velhos que deixam seus lares em busca de algo que lhes complete.
Depois do primeiro encontro passei a reclamar menos lá em casa de "detalhes tão pequenos que eu insistia em tornar grandes demais para esquecer", como chegar da rua, com muito calor, sede e não ter água gelada pra beber. Só o filtro de barro "olhando" pra mim!
Agora, sou invadido por um sentimento que não sei explicar...
Me faltam palavras...
Lembrei de "Moby Dick em Lisboa"!
"Em tempos admirei cegamente estes homens, a sua coragem, o desprendimento com que se deixam ir entre mar e céu, entregues a si próprios e à fortuna que tanto protege os audaciosamente como friamente os elimina. Ainda hoje lhes reservo um canto do coração. Lá uma vez por outra, perde-se o navegador na imensidão dos oceanos. (....) Toda a gente quer ajudar de qualquer maneira, telefonar aos bombeiros ou aos hospitais, arregaçar as mangas. Em espírito vai tudo ao cais ou à praia deitar olhos para o oceano, a ver se aponta a vela. E não se fala noutra coisa. Estas duas palavras (navegador e solitário) estão cheias de tal prestígio que dizê-las ou ouvi-las, é assim como sentir um vento de heroísmo a agitar os cabelos e as gravatas. De um momento para o outro, o mundo fica cheio de heróis sem oportunidade nem emprego. (....) A humanidade sente-se regenerada, humanitária. Este mundo tem coisas. Porque entretanto, e antes, e depois, passam todos os dias ao nosso lado outros navegadores solitários, doentes uns, desafortunados, sem casa nem trabalho, sem alegria, sem esperança – e ninguém atravessa a rua para lhes dizer : « Estás perdido, amigo? Estás perdido ? »
(José Saramago, Moby Dick em Lisboa, Crônica.)

Talvez, todos nós pudéssemos fazer algo que esteja ao nosso alcance!
Um bom começo seria viver os valores da "Nova Cidade Celestial" aqui na Velha Cidade.
Um grande abraço a Tod@s!

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Profeta Popular

Nordestino sim, nordestinado não.
(Patativa do Assaré)

Nunca diga nordestino
Que Deus lhe deu um destino
Causador do padecer
Nunca diga que é o pecado
Que lhe deixa fracassado
Sem condições de viver

Não guarde no pensamento
Que estamos no sofrimento
É pagando o que devemos
A Providência Divina
Não nos deu a triste sina
De sofrer o que sofremos

Deus o autor da criação
Nos dotou com a razão
Bem livres de preconceitos
Mas os ingratos da terra
Com opressão e com guerra
Negam os nossos direitos

Não é Deus quem nos castiga
Nem é a seca que obriga
Sofrermos dura sentença
Não somos nordestinados
Nós somos injustiçados
Tratados com indiferença

Sofremos em nossa vida
Uma batalha renhida
Do irmão contra o irmão
Nós somos injustiçados
Nordestinos explorados
Mas nordestinados não

Há muita gente que chora
Vagando de estrada afora
Sem terra, sem lar, sem pão
Crianças esfarrapadas
Famintas, escaveiradas
Morrendo de inanição

Sofre o neto, o filho e o pai
Para onde o pobre vai
Sempre encontra o mesmo mal
Esta miséria campeia
Desde a cidade à aldeia
Do Sertão à capital

Aqueles pobres mendigos
Vão à procura de abrigos
Cheios de necessidade
Nesta miséria tamanha
Se acabam na terra estranha
Sofrendo fome e saudade

Mas não é o Pai Celeste
Que faz sair do Nordeste
Legiões de retirantes
Os grandes martírios seus
Não é permissão de Deus
É culpa dos governantes

Já sabemos muito bem
De onde nasce e de onde vem
A raiz do grande mal
Vem da situação crítica
Desigualdade política
Econômica e social

Somente a fraternidade
Nos traz a felicidade
Precisamos dar as mãos
Para que vaidade e orgulho
Guerra, questão e barulho
Dos irmãos contra os irmãos

Jesus Cristo, o Salvador
Pregou a paz e o amor
Na santa doutrina sua
O direito do bangueiro
É o direito do trapeiro
Que apanha os trapos na rua

Uma vez que o conformismo
Faz crescer o egoísmo
E a injustiça aumentar
Em favor do bem comum
É dever de cada um
Pelos direitos lutar

Por isso vamos lutar
Nós vamos reivindicar
O direito e a liberdade
Procurando em cada irmão
Justiça, paz e união
Amor e fraternidade

Somente o amor é capaz
E dentro de um país faz
Um só povo bem unido
Um povo que gozará
Porque assim já não há
Opressor nem oprimido

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"Os Sonhos Não Envelhecem..."

Quando estava no curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do Ceará participei de muitos Congresso de Estudantes. Mais adiante vocês terão a oportunidades de saber mais um pouco sobre eles.
Nesses congressos, geralmente, as propostas, para o movimento estudantil, universidade e sociedade são apresentadas em forma de teses. Estas teses recebem "pseudônimos", muitas vezes trechos ou frases de músicas e poemas. Lembro-me de algumas: "Nada do que foi será"; "Quem vem com tudo não cansa"; "A beleza de ser um eterno aprendiz"; "Frutos da crise, sementes da ousadia"; "Pro dia nascer feliz"; "Somos quem podemos ser...Sonhos que podemos ter..."; e por aí vai...
Mas teve um congresso que me marcou não pelas teses defendidas ou por aquela vencedora ao final dos dias de debates. Uma das correntes do movimento estudantil escolhera uma letra, "Clube da esquina nº 2", para divulgar sua tese, que se chamava "Os Sonhos Não Envelhecem".
O movimento estudandil foi uma das minhas escolas. Foi lá que aprendi a controlar minha timidez, além de ter contribuído diretamente na minha formação. E esse mesmo movimento estudantil começava a entrar em colapso, uma vez que muitos projetos de esquerda resolveram optar pela social democracia, chegaram ao governo e paradoxalmente tiveram (e estão tendo) êxito numa conjuntura neoliberal, sem ruptura ideológica. Conclusão: a galera estava cantando como o poeta "ideologia, eu quero uma pra viver!"
Capistrano de Abreu, na busca por identificar os responsáveis pela construção do edifício colonial, construiu um pensamento que ainda ecoa nos nossos dias; "o povo, durante trezentos anos capado e recapado, sangrado e ressangrado."
Dura realidade e sentimento de impotência...
Não sei se soava como consolo ou como alívio para os meus pés cansados até aquele momento...

"Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, asso, asso
Asso, asso, asso, asso, asso, asso
Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
Calmos, calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração na curva
De um rio, rio, rio, rio, rio
E lá se vai...(...)"
(Milton Nascimento / Lô Borges / Márcio Borges)


E foi nessa atmosfera que a poesia saltou no meio daquelas teses que nada podiam reverter aquele quadro de decadência e desarticulação.
Muitos dias se passaram e os anos também!
Sempre que encontro meus "companheir@s" de movimento estudantil, eles lamentam os tempos que não voltam mais e da apatia, da falta de mobilização dos estudantes de hoje! Também lamentam o fato do trabalho ter-lhes absorvido de tal forma, que acham impossível sair da órbita "casa-trabalho-casa".
Quando digo que não parei de caminhar, que não me filiei a nenhum partido político e que as bandeiras que levanto hoje são outras, vejo nos olhos deles um brilho especial, que me motiva e me faz lembrar: "É... José! Os Sonhos Não Envelhecem!"
E o que se chamava estrada encontrou uma "Nova Chama", que se fez "lâmpada para os pés e luz para o caminho".
Também queria dizer para vocês que estão passando por essa estrada:

"Sonhos não envelhecem...
envelhecem... os que não sabem sonhar bonito!
O rosto da alma não sofre a ação do tempo!
Sobrepuja-o com discrição... dignidade e contentamento!
Homens... máquinas que guerreiam pela ânsia da vida...
desejando a qualquer custo
alcançar o primeiro lugar no pódio...
na conquista da taça... no mundo dos negócios...
não sabem sonhar bonito!
Não vêem mais as árvores...
e nem o brotar de novas flores...
Não sentem o frescor da chuva e...
nem o cheiro da terra molhada!
Chutam as pedras... sem tirá-las do caminho!
A dialética da vida...
não se interpõe em nossos pensamentos!
nós é que a enquadramos...
dentro dos padrões de vida que escolhemos!
A visão comprometida pela luta... nos leva a torvelinhos e...
às vezes afundamos... sem voltar à tona!
Visão ampla...é a visão da essência...
a visão que os poetas enxergam!!!
Sonhos não envelhecem...
se o renovarmos a cada dia...
E nem as almas de quem souber sonhar bonito!
("Sonhos não envelhecem", Iracema Zanetti )

"É... Amig@! Os Sonhos Não Envelhecem!"
Abraço a Tod@s!

domingo, 4 de maio de 2008

Está Chovendo!

O Semi-árido brasileiro tem uma paisagem exuberante!
Não é difícil compreender o amor dos poetas e artistas populares por este pedaço de chão.
No último fim de semana fui participar da Consulta da Fraternidade Teológica Latino-Americana/Nordeste. Passei por quatro estados: Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e cheguei nas Alagoas.
Tudo Verde! Mas as terras em poder de poucos!
Nosso país não poderá equacionar muitos dos nossos problemas sociais sem que antes faça uma divisão de terras que seja justa.
Me alegrei e até cheguei ficar com os olhos marejados de ver a caatiga viva e viçosa. Aí lembrei do "Seu Luis", filho de Januário:

"Já faz três noites
Que pro norte relampeia
A asa branca
Ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas
E voltou pro meu sertão
Ai, ai eu vou me embora
Vou cuidar da prantação
A seca fez eu desertar da minha terra
Mas felizmente Deus agora se alembrou
De mandar chuva
Pr'esse sertão sofredor
Sertão das muié séria
Dos homes trabaiador
Rios correndo
As cachoeira tão zoando
Terra moiada
Mato verde, que riqueza
E a asa branca
Tarde canta, que beleza
Ai, ai, o povo alegre
Mais alegre a natureza
Sentindo a chuva
Eu me arrescordo de Rosinha
A linda flor
Do meu sertão pernambucano
E se a safra
Não atrapaiá meus pranos
Que que há, o seu vigário
Vou casar no fim do ano."

"A Volta da Asa Branca" (Luis Gonzaga, Humberto Teixeira e Zé Dantas).

Bem...
Ainda não foi dessa vez que achei minha "Linda Flor"!
Quanto ao vigário? Como disse o poeta: "Pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade, disso Newton já sabia! Cai no sul grande cidade". Estou com saudade, viu cara?!!!
Quanto à "safra" desse ano? Essa foi uma das boas notícias que recebi a caminho de Maceió, ainda no dia 1º de maio, dia do trabalho. Nossa ONG conseguiu seu primeiro financiamento. Nossas atividades já estão asseguradas durante 2008. Eita inverno bom!!! heheheheh!!!!
"Ai, ai, eu tô alegre
Mais alegre a natureza ". hehehehehehhehheheheh!!!!!!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Fortaleza de Chicuta

Essa é nossa primeira parada. Escolhi levar vocês até Picos, no Piauí, por ter sido uma viagem marcante: mais um ciclo na minha vida se fechava. Era a hora de decidir matar mais uma vaca sagrada na minha caminhada. Explico... Tinha que decidir continuar seguir a correnteza, ou seja, fazer um concurso público, como muitos dos meus colegas de faculdade optaram, ou empreender um sonho. Eu era estagiário de um Banco Público Federal e trabalhava no suporte à prestação de contas das execuções extrajudiciais. Havia a possibilidade de continuar trabalhando através de uma das empresas que prestavam serviço a esse Banco. Que situação! Não foram poucas as pessoas que me chamaram de doido e de irresponsável, embora utilizassem palavras mais amenas! Diziam não haver o que pensar. Minha geração sofre com a falta do pleno emprego e tem sentido na pele os efeitos da "laborização do trabalho".
Precisava de um refúgio onde pudesse ponderar "grama por grama", vantagens e desvantagens, e o que eu dizer lá em casa. Tinha que transmitir segurança e convicção já que envolvia um importante passo na estrada, embora meus pais não me pressionassem a nada.
Foi aí que resolvi aceitar o convite do meu amigo Francisco para conhecer sua terra natal e celebrar com os seus a chegada de 2008. Ele, a Vivi e eu fomos recebidos com um churrasco de bode, que tinha como entrada uns deliciosos bolinhos fritos, que eram uma das especialidades da casa.
Nesses dias que estive hospedado na cada dele, três coisas contribuíram com suas singularidades e me falaram profundamente com e sem palavras.
A primeira delas foi constatar que aquela casa tem uma vista privilegiada. Está no alto de um dos montes que cercam boa parte da cidade. Abaixo de nós os telhados e centenas de antenas parabólicas, abertas à recepção do sinal da "Boa Notícia", como se fossem muitas bacias, prontas a receberem "Água Viva".
A segunda foi sentir durante os dias uma brisa quente, que entrava pelas minhas narinas como um "novo sopro", o fôlego necessário para as próximas léguas da estrada, embora tivesse que escolher por uma das vias da bifurcação que estava diante de mim. Ao cair da tarde, na virada do dia, O Criador ouvia atentamente a criatura em suas ponderações. Já nas noites, a lua ia saindo timidamente por trás de um dos montes, como se me perguntasse: "e aí, já sabe por onde ir?". Tive assim a certeza de que estava no local certo, numa fortaleza, com uma boa visão da situação!
E a terceira foi ter conhecido um homem simples, porém visionário! Alguém que optou em investir na educação dos seus três filhos a ter sua casa mobiliada. Sem falar no seu sonho de deixar o emprego noturno e abrir seu próprio negócio. Estava diante de uma pessoa que tinha muito mais responsabilidades do que eu, mas que não hesitou diante de suas vacas sagradas. Estou falando de "Seu Chicuta", como é chamado carinhosamente pelos seus e por onde ele passa.
Regressei à Fortaleza ainda na atmosfera que envolve o dia primeiro de janeiro de todo ano, com muito otimismo, esperança e muitos planos. Mas também com a convicção de que me depararia, logo no dia 02 de janeiro, com a mais dura realidade, porém com uma diferença: iria levar a frente o sonho de construir o Instituto Sinergia Social, uma ONG que eu e mais quatro amigos fundamos em novembro de 2007, mas que ainda não havia sido registrada. Mas essa é uma outra história...
Não podia imaginar que, ao sair da Fortaleza dos "verdes mares bravios", iria encontrar a Fortaleza nas palavras cadenciadas e cheias de emoção de "Seu Chicuta", pai do meu amigo Francisco. Alguém que se emociona ao lembrar do dia em que recebeu o sinal da "Boa Notícia" e de como a "Água Viva" saciou-lhe a sede. Gente que não contém as lágrimas ao saber que está chegando a hora da partida de seus hóspedes. Prova viva de que "maior é aquele que serve"! Espero um dia voltar a sua modesta casa, "Seu Chicuta"! Aliás, mais do que uma modesta casa! Uma verdadeira Fortaleza!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Em construção...

Esta é uma das possibilidades de compartilhar algo da minha tríade indivisível.
Em breve, estarei publicando neste espaço o que vejo na estrada, que se chama vida!
Ah! De onde surgiu o nome?
Tenho a mania de escrever frases, pensamentos, músicas, orações... nas páginas da minha agenda. E nelas estavam alguns nomes para este blog. Até que eu fui para o chá de baby do Lucas, e o que parecia ser mais uma música, soou diferente aos meus ouvidos. O mundo que pulsa numa velocidade frenética versus o desafio de andar devagar, "como um velho boiadeiro levando a boida".
Quantas vezes li a história de um certo camarada, que saiu de Ur dos Caldeus, que andava conforme o passa do gado? Muitas vezes...
Quantas vezes não ouvi o Chico cantando que a roda viva carregou "a mais linda roseira",

"a viola ", "a saudade"...
Só não levou meu destino porque não tenho um.
E como disse o poeta...
"Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz".
Você está convidad@ a caminhar quantas léguas quiser comigo!

Estraaadaaa à viiiistaaaaaa!