terça-feira, 8 de julho de 2008

Professor Pedro

Vamos agora até a "Princesa do Norte", Sobral, no nosso Ceará.
Havia passado no vestibular para o Curso de História da Universidade Vale do Acaraú-UVA.
Como eu fui parar lá?
Foi assim...
Conclui o segundo grau em 1991 e não ingressei nas universidades da capital. Passei o ano de 1992 jogando futebol. Não peguei em nenhum livro! Que disperdício!
Meus tios eram representates de uma marca de cosméticos e comecei a trabalhar com eles na distribuição dos produtos nos gabinetes de beleza. Como os negócios iam bem, eles pensaram em montar um escritório em Sobral. Trabalharíamos durante o dia e estudaríamos à noite. Resumindo... fizemos o vestibular, mas só eu passei nas provas.
Em 1993, passei a morar em Sobral. Fiquei hospedado no Pensionato do Sr. Petrus Johannes Van Ool, ou simplesmente Professor Pedro, um holandês que sobreviveu a Seguanda Guerra Mundial e que escolheu o Brasil como seu chão.
Um homem de uma mente brilhante. Mestre de figuras conhecidas nacionalmente, como a de Ciro Gomes, de quem conhecia bem o gênio! Poliglota: holandês, latim, espanhol, alemão, francês, inglês e português. Lembro-me de ouvi-lo recitar trechos de "Hamlet", de William Shakespeare. "Ben", de Michael Jackson, uma de suas canções preferidas.
Idealista e apaixonado pela educação. Havia montado o espetáculo "Luzia Homem", de Domingos Olímpio, no Teatro Municipal de Sobral. Um sonho: montar a "Ópera O Guarani", de Carlos Gomes, pois também era regente de coral.
Não era meu professor. Era um Mestre. Converssávamos muito. Não tinha assunto que ele não soubesse desenvolver. Aliás ele me dava uma bronca quando perguntava se ele tinha algum livro que falasse de um determinado assunto. Aí ele dizia: "Wendel, livros não falam. Livros tratam de algum assunto". Aí caíamos na risada!
Marcou minha vida e de centenas de outros estudantes que por lá passaram!
Sua maior riqueza era o conhecimento.
Realmente, um Mestre!
Depois de 15 anos retornei ao pensionato e fui ao seu encontro com uma grande expectativa. Fui participar de um Congresso de Jovens dos dias 4 a 6 de julho de 2008, em Sobral, e aproveitei pra fazer-lhe uma visita.
Cheguei no portão e perguntei: "Essa é a casa do Professor Pedro, né? Ele está?".
- Não! - repondeu-me um senhor, que cuidava de uma criancinha, com muito espanto.
- Já faz 40 dias que o Professor Pedro faleceu. Completou ele.
Meus amigos André Rocha e André Ximenes, que estavam comigo, logo perceberam minha tristeza e frustração. Havia chegado tarde demais!
Fomos então convidados pela esposa do Professor, Dona Zuneide, a quem eu chamava carinhozamente de Dona Zu, a entrar e conversar um pouco.
Ela nos mostrou as matérias nos jornais da cidade. Ainda me presenteou com um exemplar de um jornal e um CD de homenagens ao seu esposo.
Pude entrar novamente em seu escritório, onde estava a sua biblioteca particular, cenário da tradução de muitos livros para grandes editoras nacionais, mesmo que não levasse os créditos. A máquina de datilografar num canto coberta jazia em silêncio. Sobre sua mesa, o Novo Testamento, outros livros, além da boneca da edição ampliada das lembranças da guerra.
Abracei Dona Zu e choramos...
Já era hora de ir embora e agradeci Dona Zu por tudo o que ela e o Professor Pedro contribuíram para minha formação. Isso é algo que não tem preço!
Que saudade!!!

http://www.youtube.com/watch?v=aSqo17o2a1w

8 comentários:

Anso disse...

São experiências que encontramos na Estrada!
pois Estrada és...
:(

PIXEL disse...

Com certeza o professor pedro deixou um excelente legado,da pra ver pelo encanto q wendel, dona zu e a propria noticia do jornal se dirigiam a sua pessoa. nao tive a oportunidade de conhece-lo,mas suas historias deu pra ver q foi uma grande perda.
Grande abraço wendel,viagem de aprendizados mil.

Diego Cosmo disse...

É triste quando não da pra voltar atrás...

PABLO ROBLES disse...

Legal conhecer esse capítulo de sua vida e de seus caminhos de aprendizado. Sorte encontrar pelo menos a esposa e levar consigo as lembranças de seu velho mestre.
Abração e muita paz!!!

Jackie Kauffman Florianopolis-SC disse...

Que experiência linda, Wendel!! Sua sensibilidade tb é muito linda!! Bjs

jose maria disse...

ZE MARIA, tive o prazer de ser aluno desse mestre.Na decada de 80,em itapipoca quando ele era diretor do colegio nossa senhora das merces. levei muitas broncas, mas aprendi com seus ensinamnetos. Conheci do Zuneide e seu filhos, seu que eles não lembram mais de mim, mas eu os guardo na lembrança.Gostaria de guardar uma foto sua, por fabvor quem tiver envi-me.>zmariasitio@hotmail.com, agradeço.
jose maria

Unknown disse...

Então... Prof. Pedro! Foi meu professor na década de 1980... precisamente em 81,82,83... uma preciosidade em sala de aula... Lembro-me bem do seu copo de café sobre a mesa durante toda a aula....

Anônimo disse...

É bom ver que o pensionato já teve esse prestígio todo, mas, infelizmente, a situação mudou bastante ao longo dos anos. O pensionato está agora sobre administração do filho João e o neto Petrus e devido aos péssimos cuidados a reputação vem caindo bastante. A energia foi cortada diversas vezes desde que estou aqui, as inúmeras promessas de Seu João dizendo que vai ajeitar a situação já são piadas para os moradores. Energia caindo, comida de péssima qualidade, quartos com mofos e mal arquitetados, desrespeito aos clientes é grande e visível. O próprio dono não está aqui para cuidar de seu negócio é horrível ver a negligência dos proprietários. E o preço? Por tudo esse desgosto você paga em média 800 ou 900 reais por mês. Um custo de vida caro e desnecessário. Ainda é preciso salientar que clientes que pagam mais são os que mais ganham privilégios mostrando assim que existe diferença até no tratamento. Esse pensionato é uma piada