Essa é nossa primeira parada. Escolhi levar vocês até Picos, no Piauí, por ter sido uma viagem marcante: mais um ciclo na minha vida se fechava. Era a hora de decidir matar mais uma vaca sagrada na minha caminhada. Explico... Tinha que decidir continuar seguir a correnteza, ou seja, fazer um concurso público, como muitos dos meus colegas de faculdade optaram, ou empreender um sonho. Eu era estagiário de um Banco Público Federal e trabalhava no suporte à prestação de contas das execuções extrajudiciais. Havia a possibilidade de continuar trabalhando através de uma das empresas que prestavam serviço a esse Banco. Que situação! Não foram poucas as pessoas que me chamaram de doido e de irresponsável, embora utilizassem palavras mais amenas! Diziam não haver o que pensar. Minha geração sofre com a falta do pleno emprego e tem sentido na pele os efeitos da "laborização do trabalho".
Precisava de um refúgio onde pudesse ponderar "grama por grama", vantagens e desvantagens, e o que eu dizer lá em casa. Tinha que transmitir segurança e convicção já que envolvia um importante passo na estrada, embora meus pais não me pressionassem a nada.
Foi aí que resolvi aceitar o convite do meu amigo Francisco para conhecer sua terra natal e celebrar com os seus a chegada de 2008. Ele, a Vivi e eu fomos recebidos com um churrasco de bode, que tinha como entrada uns deliciosos bolinhos fritos, que eram uma das especialidades da casa.
Nesses dias que estive hospedado na cada dele, três coisas contribuíram com suas singularidades e me falaram profundamente com e sem palavras.
A primeira delas foi constatar que aquela casa tem uma vista privilegiada. Está no alto de um dos montes que cercam boa parte da cidade. Abaixo de nós os telhados e centenas de antenas parabólicas, abertas à recepção do sinal da "Boa Notícia", como se fossem muitas bacias, prontas a receberem "Água Viva".
A segunda foi sentir durante os dias uma brisa quente, que entrava pelas minhas narinas como um "novo sopro", o fôlego necessário para as próximas léguas da estrada, embora tivesse que escolher por uma das vias da bifurcação que estava diante de mim. Ao cair da tarde, na virada do dia, O Criador ouvia atentamente a criatura em suas ponderações. Já nas noites, a lua ia saindo timidamente por trás de um dos montes, como se me perguntasse: "e aí, já sabe por onde ir?". Tive assim a certeza de que estava no local certo, numa fortaleza, com uma boa visão da situação!
E a terceira foi ter conhecido um homem simples, porém visionário! Alguém que optou em investir na educação dos seus três filhos a ter sua casa mobiliada. Sem falar no seu sonho de deixar o emprego noturno e abrir seu próprio negócio. Estava diante de uma pessoa que tinha muito mais responsabilidades do que eu, mas que não hesitou diante de suas vacas sagradas. Estou falando de "Seu Chicuta", como é chamado carinhosamente pelos seus e por onde ele passa.
Regressei à Fortaleza ainda na atmosfera que envolve o dia primeiro de janeiro de todo ano, com muito otimismo, esperança e muitos planos. Mas também com a convicção de que me depararia, logo no dia 02 de janeiro, com a mais dura realidade, porém com uma diferença: iria levar a frente o sonho de construir o Instituto Sinergia Social, uma ONG que eu e mais quatro amigos fundamos em novembro de 2007, mas que ainda não havia sido registrada. Mas essa é uma outra história...
Não podia imaginar que, ao sair da Fortaleza dos "verdes mares bravios", iria encontrar a Fortaleza nas palavras cadenciadas e cheias de emoção de "Seu Chicuta", pai do meu amigo Francisco. Alguém que se emociona ao lembrar do dia em que recebeu o sinal da "Boa Notícia" e de como a "Água Viva" saciou-lhe a sede. Gente que não contém as lágrimas ao saber que está chegando a hora da partida de seus hóspedes. Prova viva de que "maior é aquele que serve"! Espero um dia voltar a sua modesta casa, "Seu Chicuta"! Aliás, mais do que uma modesta casa! Uma verdadeira Fortaleza!
7 comentários:
hô rapaz... vc de fato conseguiu me transportar pra casa do seu Chicuta. Fiquei imaginando todos os detalhes, a vista, o ar quente nas narinas, e cláro, a carne de bode com bolinhos. É companheiro, bifurcações é também meu grande desafio. Nadar contra a maré é semprer mais difícil. Porque pra tudo se tem que ter resultados(din din). As pessoas perguntam "o que vc faz" antes de "quem vc é"... É triste e sufocante.
Sonhe cara, vc só tem uma vida terrena, faça ela ser significativa de alguma forma. A referência deve ser seu coração, unicamente!
receba meu abraço fraterno!
A julgar pelo tipo de filho é que consigo imaginar o pai! O Francisco desde sempre nos encanta com o seu jeito simples, porém autêntico; riso farto e espaçoso; um jeito moleque associado à seriedade com pensa o futuro e a vocação. Tenho alegria de pensá-lo como sobrinho, como amigo e como irmão. Assim como sacio a alma, com textos deliciosos como esse que você escreveu!
Manda mais, porque você manda bem!
Com carinho.
Q picuinha massa de se ler!!!
hehehehe
e agora oq vem por aí!!
FTL tur?
só faltava a foto!! naum quero limitar a imaginação de ninguem mas é q gosto disso!!!
Vlw Wendel e boa viagem...
Wendel, que texto leve, simples, profundo, reflexivo...
Prazer em conhecer mais um dos seus talentos.
Grande abraço, cheio de admiração.
Olá Wendel, é o Jorge!
Parabens belo blog, está ótimo, continue assim.
Convido vc a dar uma olhada no meu blog também:
www.verdadeblog.blogspot.com
Gente...
Parece que tá difícil voltar para as páginas das agendas hehehehehhe!!! Mas que tá me fazendo bem escrever,isso tá! Brigadão pela força, George. Allison, se os textos estão legais, isso também é "culpa sua" heheheehh!!! Prometo que vou pensar sobre as fotos, Anderson. Adri, volte sempre! Jorge, prazer ter você por aqui também!
Um grande abraço a Tod@s!
Soh pra agradecer pelo texto^^
Paz,
Delson
Postar um comentário