segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sobre ferrolhos

Dentre os muitos ensinamentos contidos nos Provérbios de Salomão, existe um que me chama a atenção por falar nos ferrolhos.

"O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como ferrolhos dum palácio" (Pv 18.19).

Quando assisti o filme "O Senhor dos Anéis: As duas Torres", lembrei-me imediatamente do provérbio acima. As cidades, que também eram fortalezas, só eram tomadas à força. A energia e o grande número de guerreiros mobilizados nas incursões era algo absurdamente descomunal. Agora, imagine eu ou você tendo que empregar tamanha força para reconquistar um irmão ou um amigo ofendido...!?:;,.
Diz uma linda lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto e em um determinado ponto da viagem discutiram. O outro, ofendido, sem nada à dizer, escreveu na areia: HOJE, MEU MELHOR AMIGO ME BATEU NO ROSTO. Seguiram e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se sendo salvo pelo amigo. Ao recuperar-se pegou um estilete e escreveu numa pedra: HOJE, MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME A VIDA. Intrigado, o amigo perguntou: Por que depois que te bati, você escreveu na areia e agora escreveu na pedra? Sorrindo, o outro amigo respondeu: Quando um grande amigo nos ofende, deveremos escrever na areia onde o vento do esquecimento e do perdão se encarregam de apagar; porém quando nos faz algo grandioso, deveremos gravar na pedra da memória do coração, onde vento nenhum do mundo poderá apagar !!!!
É...
Essa lenda anotei na minha agenda alguns dias depois que um amigo me disse que eu era um peso na vida dele. Mas nem sempre os irmãos ofendidos estão dispostos a abrirem os ferrolhos de seus palácios. E o que fazer nesses trechos da estrada? Deixar-se levar pela lógica de que "a vida sempre foi um perde-ganha, quem não bate apanha; e isso é natural"? Ou fazer como aquele pai , que esperava o filho que se foi levando parte dos bens da família, e ao avistá-lo ainda quando estava longe, se moveu de íntima compaixão, correu ao seu encontro e o abraçou e o beijou?
Tenho procurado abrir os muitos ferrolhos do meu palácio. Confesso que não é uma coisa fácil de se fazer. É algo doloroso de imediato. Mas que ao abrir da porta torna-se libertador!
Abração a tod@s!

sábado, 19 de julho de 2008

Navegar é preciso...


"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.

Virando de ponta-cabeça um dos trocadilhos mais representativos da era das navegações, temos uma grande lição!

Naver é preciso, aqui, não no sentido de exatidão, mas porque faz parte do âmago humano o desejo de desbravar o desconhecido!
É como disse Jonas Abib, Monsenhor.:

"Não dá mais pra voltar, o barco está em alto mar.
Não dá mais pra negar o mar é Deus e o barco sou eu
E o vento forte que me leva pra frente é o amor de Deus.
Não dá nem mais pra ver o porto que era seguro.
Eu sou impulsionado a desbravar o novo mundo".

Parafraseando os poetas, "muitas vezes nossos corações fingem fazer mil viagens. No entato, estão ancorados num porto qualquer, sendo arremeçados contra o cais".

"Navegar é preciso!"
Abração!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Saia você também da cabana

Não sei se você já teve a agradável dificuldade de avançar na leitura de um livro, após se deparar com um trecho que lhe chamou a atenção e fez com que você parasse, respirasse bem fundo e soltasse sua imaginação. Isso acontece comigo logo nos prefácios e até nas dedicatórias.
Estou lendo um livro do Philip Yancey, e descobri a história facinate de um homem chamado John Muir, relatada no prefácio de Eugene Peterson; e que agora eu compartilho com você.
"Na última metade do século dezenove, John Muir era o mais intrépido e maravilhoso explorador do extremo ocidental da América do Norte. Por décadas ele andou pelas impressionantes criações de Deus, para cima e para baixo, desde as Sierras da Califórnia até as geleiras do Alaska, observando, relatando, louvando e experimentando - entrando em tudo o que encontrava com o prazer de uma criança e reverência da maturidade.
Em 1874 Muir visitou um amigo que vivia numa cabana aninhada no vale de afluente do rio Yuba, nas montanhas Sierra - um lugar ermo, bom para se aventurar e depois voltar para uma reconfortante xícara de chá.
Num dia frio de dezembro surgiu uma tempestade vinda do Pacífico - uma brava tempestade que fustigava os zimbros e os pinheiros, as madornas e os ciprestes como se fossem folhas de relva. Era para tempos como esse que a cabana fora construída: proteção aconchegante dos elementos severos da natureza. Facilmente podemos imaginar Muir e seu anfitrião seguros na cabana bem calafetada; laleira acesa para espantar o assalto cruel dos elementos, ambos enrolados em peles de ovelha; Muir absorto, descrevendo, em elegante prosa, a fúria da natureza. Mas, nossas imaginações não treinadas a lidar com Muir, nos traem, pois Muir, em vez de se abrigar no aconchego da cabana, fechando bem a porta e jogando mais uma tora no fogo, saía da cabana no meio da tempestade, subia um alto penhasco, escolhia um pinheiro gigante como poleiro ideal para experimentar o caleidoscópio de cor e som, cheiro e movimento, abria caminho ao topo e cavalgava a tempestade, fustigado pelo vento - segurando firme para preservar a vida, curtindo a natureza: usufruindo toda sua rica sensualidade, sua energia primal".
E você...?
É um mero espectador da vida, que prefere os confortos de criatuaras ou, em vez disso, os confrontos com o Criador?
Abração!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Professor Pedro

Vamos agora até a "Princesa do Norte", Sobral, no nosso Ceará.
Havia passado no vestibular para o Curso de História da Universidade Vale do Acaraú-UVA.
Como eu fui parar lá?
Foi assim...
Conclui o segundo grau em 1991 e não ingressei nas universidades da capital. Passei o ano de 1992 jogando futebol. Não peguei em nenhum livro! Que disperdício!
Meus tios eram representates de uma marca de cosméticos e comecei a trabalhar com eles na distribuição dos produtos nos gabinetes de beleza. Como os negócios iam bem, eles pensaram em montar um escritório em Sobral. Trabalharíamos durante o dia e estudaríamos à noite. Resumindo... fizemos o vestibular, mas só eu passei nas provas.
Em 1993, passei a morar em Sobral. Fiquei hospedado no Pensionato do Sr. Petrus Johannes Van Ool, ou simplesmente Professor Pedro, um holandês que sobreviveu a Seguanda Guerra Mundial e que escolheu o Brasil como seu chão.
Um homem de uma mente brilhante. Mestre de figuras conhecidas nacionalmente, como a de Ciro Gomes, de quem conhecia bem o gênio! Poliglota: holandês, latim, espanhol, alemão, francês, inglês e português. Lembro-me de ouvi-lo recitar trechos de "Hamlet", de William Shakespeare. "Ben", de Michael Jackson, uma de suas canções preferidas.
Idealista e apaixonado pela educação. Havia montado o espetáculo "Luzia Homem", de Domingos Olímpio, no Teatro Municipal de Sobral. Um sonho: montar a "Ópera O Guarani", de Carlos Gomes, pois também era regente de coral.
Não era meu professor. Era um Mestre. Converssávamos muito. Não tinha assunto que ele não soubesse desenvolver. Aliás ele me dava uma bronca quando perguntava se ele tinha algum livro que falasse de um determinado assunto. Aí ele dizia: "Wendel, livros não falam. Livros tratam de algum assunto". Aí caíamos na risada!
Marcou minha vida e de centenas de outros estudantes que por lá passaram!
Sua maior riqueza era o conhecimento.
Realmente, um Mestre!
Depois de 15 anos retornei ao pensionato e fui ao seu encontro com uma grande expectativa. Fui participar de um Congresso de Jovens dos dias 4 a 6 de julho de 2008, em Sobral, e aproveitei pra fazer-lhe uma visita.
Cheguei no portão e perguntei: "Essa é a casa do Professor Pedro, né? Ele está?".
- Não! - repondeu-me um senhor, que cuidava de uma criancinha, com muito espanto.
- Já faz 40 dias que o Professor Pedro faleceu. Completou ele.
Meus amigos André Rocha e André Ximenes, que estavam comigo, logo perceberam minha tristeza e frustração. Havia chegado tarde demais!
Fomos então convidados pela esposa do Professor, Dona Zuneide, a quem eu chamava carinhozamente de Dona Zu, a entrar e conversar um pouco.
Ela nos mostrou as matérias nos jornais da cidade. Ainda me presenteou com um exemplar de um jornal e um CD de homenagens ao seu esposo.
Pude entrar novamente em seu escritório, onde estava a sua biblioteca particular, cenário da tradução de muitos livros para grandes editoras nacionais, mesmo que não levasse os créditos. A máquina de datilografar num canto coberta jazia em silêncio. Sobre sua mesa, o Novo Testamento, outros livros, além da boneca da edição ampliada das lembranças da guerra.
Abracei Dona Zu e choramos...
Já era hora de ir embora e agradeci Dona Zu por tudo o que ela e o Professor Pedro contribuíram para minha formação. Isso é algo que não tem preço!
Que saudade!!!

http://www.youtube.com/watch?v=aSqo17o2a1w