domingo, 29 de junho de 2008

Lembranças do Parque

O "Parque das Crianças".
Foi assim que ficou imortalizado essa área verde no centro de Fortaleza e que durante muito tempo abrigou a Escola Alba Frota.
No Parque foi onde aprendi a ler e escrever. Lembro-me da minha festa de Dr. do ABC: um lenço branco em cada mão e cantando várias canções. No final de tudo, muitas fotos e choros das "Tias", de muitos meninos e meninas.
Hoje, compreendo perfeitamente o sentimento delas!
Tenho que adimitir que dei muito trabalho as minhas professoras. Minha agenda não era assim tão cheia de estrelinhas...hehehehheehh!!!! Era uma frase presente em boa parte dos meses: "O aluno não poderá vir amanhã sem a companhia dos pais ou responsável". Esse era o código dos adultos para entregar as bagunças e as indisplinas nas aulas.
Ah! Também as professoras davam o conceito ao comportamento do dia: Excelente, Ótimo, Bom, Regular e Insuficiente. Confesso que nessa escala eram mais comuns os regulares e insuficientes.
Minha mãe sempre me lembra de uma vez que promovi uma verdadeira farra na sala de aula. O fato é que fiquei pulando sobre as mesas dos meus colegas e ainda convidei outros a fazer o mesmo. Resultado? Sola, ora! hehehehheeh!!!
Outra vez foi a descoberta de um atalho chamado janela. Eu não usava mais a porta da minha sala. Pulava tanto de dentro para fora como de fora para dentro! A sentença fora escrita na agenda e o castigo executado: sola, ora! O pior não foi ter sido privado de brincar na rua, mas a surpreza que me aguardava no dia seguinte. Antes de ir para o Parque, minha mãe me deu umas chineladas. Sem entender aquilo e sem saber o motivo da peia, peguntei aos prantos:
- Mas o que foi que eu fiz?
- Nada - respondeu minha mãe com as últimas três chineladas. Mas ainda vai fazer! Pensa que eu não sei?
Mas nem o fato de tanta sola
tirava de mim a paixão
por aquela escola.
Quantas vezes não fiquei sem recreio por conta das tarefas não respondidas? Tantas e tantas...
Hoje, professor, quando "volta e meia" estou procurando alguma coisa nas minhas agendas, me deparo com um texto do Paulo Freire:
A ESCOLA
Escola é...
o lugar onde se faz amigos,
não se trata só de prédios, salas, quadros,
programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha,
que estuda, que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente, cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de "ilha cercada de gente por todos os lados".
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém,
nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver,
é se "amarrar nela".
Ora, é lógico...
numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.

domingo, 22 de junho de 2008

Equilíbrio Ecológico

"Galáxia da Mente e Coração"
Toda vida que eu escutava essa música mergulhava numa viagem que me fazia respirar fundo! Nas páginas da minha agenda estava escrito: "Isso sim é que é equilíbrio ecológico! Onde o leopardo passeia com a corsa..."

DEREPENTE EU ME VEJO NUMA NOVA CIDADE
ONDE NÃO HÁ GUARDA E NEM HÁ LADRÃO
ONDE TODO EMPREGADO É AMIGO DO PATRÃO
ONDE QUALQUER SER VIVENTE, VIVE EM PAZ COM SEU IRMÃO

ONDE O LEOPARDO PASSEIA COM A CORSA
ONDE NINGUEM FORÇA A NATUREZA PRA VIVER
ONDE A ANDORINHA VOA COM O GAVIÃO
ONDE AINDA O CORAÇÃO É A FONTE DO SABER

DEREPENTE EU ME VEJO NUMA NOVA CIDADE
ONDE NÃO HÁ CHORO E NEM RANGER DE DENTE
ONDE OS PEIXES DO RIACHO NÃO RESPIRAM DETERGENTE
ONDE NÃO HÁ FALTA D'AGUA E TAMBÉM NÃO HÁ ENCHENTE

ONDE O LEOPARDO PASSEIA COM A CORSA
ONDE NINGUEM FORÇA A NATUREZA PRA VIVER
ONDE A ANDORINHA VOA COM O GAVIÃO
ONDE AINDA O CORAÇÃO É A FONTE DO SABER

"SENHOR QUANDO O DIA AMANHECER E ESSE SONHO EU VIVER
A ESPERANÇA DE MORAR NO CÉU
E DE VER TODA ESSA VELHA TERRA, TRANSFORMADA NUMA TERRA NOVA
ONDE MANA LEITE E MEL."

("Sonho", Novo Alvorecer)

domingo, 15 de junho de 2008

Dom Quixote

IMPRESSÃO DIGITAL

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz
.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!"
.
António Gedeão, in Movimento Perpétuo

domingo, 8 de junho de 2008

Dialetos

Há uns cinco anos atrás presenciei um choque de dialetos.
O Ceará, conhecido pelas belezas naturais, pelos problemas sociais sérios e que merecem cuidados, também é conhecido pela forma como as pessoas falam, ou seja, pelo seu dialeto, o "Cearês".
Não que isso seja exclusividade cearense, mas alguns ambientes desenvolvem com mais facilidade expressões e jargões que só são compreendidos por quem os frequenta. Um exemplo são as igrejas que falam o "evangeliquês".
E foi justamente no início da madrugada de um sábado que ouvi uma das frases mais orginais que lembro, onde o "cearês" e "evangeliquês" se confrontavam.
Meu vizinho estava bêbado(até hoje é difícil encontrá-lo sóbrio, pois é dependente do álcool) e discutia em voz alta com sua irmã. Quanto mais eles falavam mais os outros vizinhos ascendiam as luzes para ver o que estava acontecendo. Mas o que chamou minha atenção foi o final daquela discussão:
"Num bote boneco, não cumade! Fique aí na sua!" - disse ele.
"Troço desse só serve pra perturbar nosso juízo!" - disse ela.
"Quem mandou mexer comigo? Agora eu vou lhe aperriar até dizer chega!" - retrucou ele.
"Tá é queimado, tá é queimado, tá é queimado em nome de Jesus!" - bradou ela.
"Ora... Se Jesus já quer é tirar o "nêgo" do fogo! Como é que pode tá queimado?" Perguntou ele, o que pôs fim a discussão.
Minha reação na hora em que ouvi isso foi um misto de riso e choro.
Riso pela forma genial do trocadilho. Não conseguiria ter dado uma resposta melhor e acabar com a discussão. Choro por ouvir o clamor de alguém bem perto de mim e permanecer alheio.
Para escrever essa história pedi a autorização do meu ex-vizinho, que quase me derrubou da cadeira quando foi se levantar do meio fio da Praça Argentina, onde nós converssávamos.
É... Esse cara precisa de apoio. Só assim ele terá a oportunidade de escolher trocar a "água que o passarinho não bebe" por "Água Viva"!
Sei que o desafio é grande: compartilhar com alguém algo que nos custe muito, principalmente o tempo!

Um grande abraço!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O tempo nosso de cada dia

Escrevi um texto com o mesmo título faz algum tempo. Lembro-me que foi logo após o aniversário do Werbston. Naquela noite, resolvi ler uma música que ouvira dentro do ônibus e que mexeu muito comigo. Por vezes isso acontece!
Abro parêntese...
De vez em quando me pego fazendo as contas do tempo. A última vez que vi as pesquisas do IBGE sobre a expectativa de vida dos brasileiros e brasileiras foi em 2006: a média nacional era de 71,9 anos; enquanto a média da região Nordeste era de 69 anos. No Sul: 74,2 anos; no Sudeste: 73,5 anos; no Centro-Oeste: 73,2 anos; e no Norte: 71 anos.
E para essa problemática tentava a "solucionática" de Moisés: "Ensina-me ó Deus a contar os meus dias para que eu alcance um coração sábio."
E fazia as contas...
Nasci em 1974. Pela média nacional, viveria (1974 + 71,9) até 2046, aproximadamente. Pela média do Nordeste, viveria (1974 + 69) até 2043. Assim:
Até 2046: 34 anos x 365 dias = 12.410 dias vividos.
2046 - 2008 = 38 anos a viver ou 38 anos x 365 dias = 13.870 dias a viver.
Se contados os anos bissextos temos de 1974 a 2004 mais 8 dias. Assim, os dias vividos passariam para 12.418 dias. De 2008 a 2046 temos mais 12 dias. Os dias a viver passariam para 13.882.
Paranóia constantemente confrontada pela Metanóia! Por isso não vou fazer as contas se fosse viver até 2043. Fecho parêntese.
Estávamos, os homens, num círculo na sala de estar, enquando as "meninas" também se organizaram num dos quartos.
O papo cabeça estava a mil por hora! Todos falavam. E lá pelas tantas, resolvi fazer uma pergunta:
"Posso ler uma coisa pra vocês?" - Perguntei meio receoso, achando que ia falar besteira.
"Diz lá, cara!"- Respondeu o Werbston, o anfitrião e aniversariante, o que me deixou muito à vontade.
Foi aí que eu abri minha agenda e comecei a ler:

"Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar".
("Epitáfio", Sérgio Britto)

Não sei os outros, mais teve um deles que bebeu junto comigo da essência dessa letra. Pude ver nos olhos dele! São em ocasiões como esta que podemos dizer: "ganhei o dia! Ufa! Não tô ficando doido!".
Toda vez que me pego na tentativa (e porque não dizer tentação!) de contar o tempo com o rigor "cartesiano" fecho os meus olhos e me vem à mente aquele dia...
Posso ver todos ali sentados em círculo. Posso ouvir minha voz e as batidas apressadas do meu coração.
Quero encerrar este texto com uma expressão que vi no filme "Sociedade dos Poetas Mortos" e no site do Rubem Alves: "Carpe Diem", que quer dizer "aproveite o dia"; "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

Abração!
"PaZ para os Irmãos!"